2º Salão Paulista de Arte Contemporânea

Por:  Aldir Mendes de Souza


                                         II Salão Paulista de Arte Contemporânea
O artista plástico e ex-presidente da APAP, Aldir Mendes de Souza, comenta a polêmica ocorrida no 2º Salão de Arte Contemporânea realizado em 1984 e sua luta para que a Secretaria de Cultura tivesse representantes da classe artística na Comissão de Artes Plásticas.

 Se existe fato inusitado no ambiente de artes plásticas é a anulação de um Salão de Arte depois de já terem sido selecionados os trabalhos e distribuídos os prêmios.
 Nestes últimos vinte e três anos em que participo de exposições não vi episódio semelhante.
 Parece incrível mas tudo começou com denúncias verbais feitas por mim diretamente ao recém empossado secretário Jorge da Cunha Lima, durante uma audiência concedida à representantes das entidades de classe, para tratar dos problemas causados pela permanência da Escola de Belas Artes no mesmo prédio da Pinacoteca do Estado. Ao interromper o assunto tratado, infelizmente desagrado às pessoas que lá estavam para discutir o verdadeiro motivo da audiência. Posteriormente os representantes das entidades de classe redigiram um documento criticando a minha interferência e esta carta só não foi parar na Secretaria de Cultura, porque o artista plástico Cildo Oliveira negou-se a assiná-la.
Argumentava de que se eu não tivesse aproveitado a oportunidade para fazer as minhas colocações, dificilmente teria outra chance porque a APAP não estava conseguindo uma audiência exclusiva, para apresentar reivindicações.
Apesar da deselegância consegui apresentar ao Secretário os seguintes fatos:
1-      Que embora as associações de classe ali estivessem presentes elas não eram ouvidas quanto ao rumo da Política Cultural da Secretaria no Campo das Artes Plásticas, o que era um absurdo, visto que esta participação é prevista por lei.
2-       Que tanto a APAP, como a Associação Brasileira de Críticos de Artes Setor São Paulo, como a APAP Pré-Sindical não tinham representantes na Comissão Estadual de Artes Plásticas, nem na Comissão Organizadora do Salão Paulista de Arte Contemporânea, nem no seu Júri de Premiação e Seleção, e nem em nenhuma outra atividade da Secretaria.
3-      Que o artista Aldemir Martins, ex-presidente da APAP encontrava-se demissionário da Comissão Estadual de Artes Plásticas desde outubro de 1983, tendo me indicado para substituí-lo, mas até agora a nomeação não havia sido feita, apesar da nossa insistência.
4-      Que por deliberação da Assembléia Geral do dia 12 de Março de 1984 a APAP indicava por iniciativa própria uma lista tríplice para que o Sr. Secretário procedesse a substituição de Aldemir Martins.
A carta com os nomes dos artistas já estava na Secretaria há dezessete dias.
 5-      Que o sistema de votação imposto aos artistas pela Comissão Organizadora do Salão, não era sério, uma vez que os funcionários que recolhiam as obras sugeriam e desaconselhavam nomes para os artistas votarem, fato este comentado por diversas pessoas que estiveram fazendo a inscrição.
Diante destes fatos o Sr. Secretário marcou uma audiência com todas as entidades interessadas de representação na Comissão Estadual de Artes Plásticas para o dia 10 de abril e prometeu ainda verificar os problemas relativos ao Salão. A reunião teve continuidade voltando ao assunto da Pinacoteca.
 No dia 10 compareceram a audiência além da APAP., a ABCA-SP, APAP Pré-Sindical, a Associação Paulista de Belas Artes e a APCA.. O Secretário relatou que havia determinado a suspensão do Salão por ter constatado diversas irregularidades na votação de dois membros do júri. Argumentou ainda que não havia sido pedida a Verba para o pagamento dos prêmios, que o regulamento do Salão não havia sido publicado no Diário Oficial. Eu então ponderei que tudo isto havia ocorrido por causa da Comissão de Artes Plásticas, que não realizou o Salão em 1983, como previa a lei, e que agora o fazia em 1984 de forma irregular. E ainda que neste governo, que se diz democrático, as Associações não podem ter representantes na Secretaria de Cultura, como sempre ocorreu nos Governos Biônicos anteriores. O Secretário concordando comigo passou então a compor diante de todos uma nova Comissão Estadual de Artes Plásticas com um representante de cada uma das Associações presentes além de elementos da USP e da UNICAMP.
A luta da APAP foi sempre pela moralização dos salões de Arte e pela seriedade e profissionalismo dos mesmos. Se havia suspeita de fraude é lógico que o assunto deveria ser esclarecido para que centenas de artistas não fossem prejudicados pelo corte indevido de suas obras. A APAP ofereceu e oferece ainda a Assessoria Jurídica a seus associados premiados ou que se sintam prejudicados pela desorganização de tal evento cultural, fato este que ocorreu sob inteira responsabilidade da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, então sob a responsabilidade do Sr. Pacheco e Chaves.
    A APAP não apoiou o piquete organizado pela APAP Pré-Sindical para impedir a retirada das obras inscritas, porque reconheceu que este é um direito exclusivo do artista, que é o único proprietário do seu trabalho, devendo decidir o destino do mesmo.
A APAP solicitou em conjunto com a ABCA-SP , um posicionamento oficial da Secretaria de Cultura em relação a notícia de anulação do Salão, enviando carta em 3 de maio de 1984. A Secretaria publicou nota oficial em 10 de maio prometendo a realização do Salão a curto prazo assim que as condições o permitissem.
     Como se vê indiretamente a APAP foi se envolvendo com a anulação do salão e em dado momento fomos acusados de estar colaborando com o desaparecimento desta mostra de arte, porque alguns artistas argumentavam que este era o objetivo da Secretaria. Como conseqüência estávamos também envolvidos com a realização do novo Salão.
Caso ele não se concretizasse, nossa Associação teria colaborado para a perda de mais um espaço, para as artes plásticas, o que seria uma lástima.
      O Sr.Jorge Cunha Lima verificou as nossas denúncias, atendeu nossas reivindicações dando-nos um representante na Comissão Estadual de Artes Plásticas, tivemos um representante no Júri, outro na Comissão Organizadora do Salão, e finalmente a mostra de arte agora se realiza apesar de tudo. Um debate irá discuti-la, o Salão sofrerá críticas e poderá ter muitos erros, mas garantimos que ele será mais profissional e mais honesto em conseqüência da participação democrática das entidades de classe, conforme a nossas reivindicação.
Aldir Mendes de Souza – Artista plástico e ex-presidente da APAP
     
 

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