Exposição de Braz Dias e Astrid Salles no Espaço Cultural CITI

Braz vai expor 18 telas e eu 09 estandartes e 06 recortes em MDF. Ficarei muito feliz ao encontrá-lo no vernissage para brindarmos juntos.
A entrada do estacionamento do Espaço Cultural Citi é pela Alameda Santos, 1146
SOBRE BRAZ DIAS
“Quem não sonha o azul do voo, perde seu poder de pássaro “ (Thiago de Melo)
Esta frase, citada por Braz nos catálogos de exposições pelo mundo, definem bem a poesia de sua obra.
Ele não gostava do termo Surrealista para seu trabalho, preferia Metafísico.
No catálogo da exposição da Galeria Projecta, São Paulo em 1977, Braz escreveu:
“-Não saberia dizer se o que faço é Surrealismo, creio que isso não tem a menor importância, pois não quero chocar pelo simples fato de algo ser irreal ou um sonho.
Tento demonstrar que no objeto mais comum de nosso cotidiano, permanece latente um significado fantástico, dependendo do poder de imaginação de quem vê. Um fio se transforma em montanha, puxa a paisagem, surge a lua para onde um dia retornaremos.
Uma porta aberta no espaço. Quem não quer uma porta aberta na boca da noite?
Ele pensava como De Chirico: “Tudo devia ser pintado como um enigma. É preciso penetrar no mistério das coisas insignificantes”
Um horário exercia enorme atração para Braz, era a passagem do dia para a noite, a “hora mágica”
Por quase 30 anos observei de perto o extremo cuidado com que Braz executava suas pinturas, iniciando pelo fundo com várias camadas, frequentemente em nuances de azuis, feitas com os pincéis. Enquanto o fundo não estivesse perfeito, ele não se motivava a colocar os elementos. Era o que ele chamava de 80% de mão de obra. Só então começava os 20% onde soltava a imaginação e a criatividade. Dava liberdade a seus sonhos, tirava as aves das gaiolas, arrebentava os fios das marionetes e voava para não perder seu poder de pássaro.
Mas Braz não era nem um pouco místico.
Um dia, no atelier, duas amigas conversavam, admirando uma tela do Braz com uma pirâmide de cristal pendurada por um fio e discordavam, uma atribuía um significado esotérico à pirâmide, e a outra a definia como a essência da energia.
Perguntaram ao artista o que simbolizava a pirâmide. Ele simplesmente respondeu:-“ É um elemento plástico”. Um tanto desconsertadas concluíram: – “ Muitos procuram, ele já possui, não precisa procurar mais nada. É um Mestre!”
O sentimento de liberdade queimava sua alma. Mas era mais que isso. Ele tinha a esperança e a crença de que as pequenas aberturas um dia iriam se dilatar em grandes espaços, as pessoas deixariam de se equilibrar na corda bamba, não haveria fios prendendo as marionetes e poderíamos alçar voo para o céu.
Apesar de sua ausência, conservo os sentimentos de um homem sincero, simples, humilde, mesmo com seu enorme talento. Excelente companheiro de vida e de atelier, amigo e marido no qual se podia confiar em todos os momentos, fosse triunfando ou dividindo as mágoas. Sempre nos respeitando como indivíduos e artistas, viajamos inúmeras vezes para fazermos exposições na Europa e tendo sucesso ou não, nunca pensamos em desistir da Arte.
SOBRE OS ESTANDARTES E A EXPOSIÇÃO
Agora, novamente juntos, como o Sol e a Lua, o Dia e a Noite, a Terra Distante e a Terra Presente, Braz no céu, eu na terra, estou feliz pela exposição de estandartes que para mim simbolizam comemoração, festejos e alegria.
Esta mostra é um triunfo e tenho plena convicção de que Braz vibraria com ela.
A proposta dos estandartes é trazer a dança da terra. O estandarte é uma peça leve, maleável, para ser levada dançando ao som de atabaques.
Somente o estandarte poderia resgatar a dança da terra. Essa dança tribal, não poderia se configurar numa tela compacta, presa.
O estandarte é solto, busca a liberdade e sempre é carregado acima de nossas cabeças, seja no Carnaval, no Maracatu ou numa passeata pleiteando reivindicações porque está além de nossa consciência. Significa sair do contido sem perder a terra, a estrutura, a raiz.
Agradeço ao Jacob Klintowitz por enxergar a força que emana da nossa união.
Quando lhe agradeci pela mostra ele me comoveu com a resposta:”-Não agradeça, você merece, o Braz merece, São Paulo merece!”
Ergo o estandarte em júbilo festejando o amor pela criação e pelo que foi e pelo que está.
Astrid Salles
São Paulo, 03 de Outubro de 2013