O lugar no espaço humano

Por:  Edilson Ferri
A não ser pelo fato de que a comunicação tenha tido um avanço espantoso com o advento da eletrônica, e que pôr isso à informação possa ser acessada imediatamente de qualquer parte do mundo e a qualquer hora, em se tratando do indivíduo, o ciberespaço é neste aspecto o pior lugar de todos para a compreensão das relações humanas. Desprovido de vida física o espaço virtual pode agregar valores e referencias que nem sempre tem compromisso com uma verdade pessoal.

A principio nos parece mais apropriado para a obtenção de resultados que possam transparecer com mais clareza as realidades do indivíduo, permanecer à margem deste processo de virtualização do espaço, a fim de potencializar o pensamento vinculado à ação de momento, sem edição, sem preparação, e composto de elementos vibrantes, organizados em uma cena real e cotidiana como um ser presente e atuante no meio em que pertence, seu lugar.

No recente mundo teoricamente globalizado, pretende-se individualmente, encontrar um lugar distinto, que nos diferencie da maioria das outras pessoas, isso independente do grupo social que pertencemos. A demarcação deste território é feita pela relação social que desenvolvemos e pelo tempo que a mantemos. Nossos interesses pessoais muitas vezes extrapolam relações profissionais, familiares e de convivência, em beneficio da sustentação dos ideais pretendidos. A relação de distancia aqui é tratada de maneira a abordar os conceitos de relacionamento entre as partes do objeto de estudo, mais que sua relação de contiguidade. O fato de ter como propósito primeiro à observação do desejo de estar absorvido pelo espaço que nos circunda, traz a necessidade de um aprofundamento na pesquisa do sentido de lugar, e preocupação com a crescente vontade de se ter um espaço pessoal, particular e privado.

Os resultados destes intentos, muitas vezes culminam em divergências que podem levar ao desmantelamento de uma estrutura, antes, muito forte e importante para a sobrevivência do sistema que a nós mesmos impomos. Neste caso, a instabilidade do lugar que ocupamos, no sistema, se mostra muito frágil para poder garantir segurança e longevidade à posição.
O estudo da apropriação do espaço, e da ocupação do lugar, se faz necessário pelo fato de que a presença do universo simbólico do ocupante determina limites territoriais que podem se alternar a todo o momento.

Fazer uma rápida classificação de fatores que caracterizam um espaço, não demonstra com profundidade o sentimento humano de lugar. O que realmente pertence ao lugar e o que faz dele lugar. A utilização do espaço propõe mudanças de comportamento a cada ocupação de grupo específico, esta característica demanda uma alteração visual e sensorial do espaço, dando a ele um significado simbólico, induzindo a uma caracterização própria que requer do usuário certo comprometimento e cumplicidade.

O conceito de segurança permeia a relação do ocupante e lugar ocupado, distinguindo-se pelo acordo do espaço às suas necessidades, e com a afinidade com o conjunto de sensações que se tem dele. A defesa de um território só pode realmente acontecer, se as crenças do ocupante forem para ele superiores a sua própria vida, caso contrário à força pode subjugar e dominar, com mais ou menos tempo, dependendo da energia que foi gasta para atingir o objetivo planejado.
O medo e o terror utilizados para enfraquecer as posições, e criar expectativas de destruição e derrota, são disseminados sem qualquer preocupação com os resíduos por eles provocados. Objetos e significados que trazem referencias do lugar, como muralhas e pontos de visão privilegiados, transformam o ocupante em detentor da informação e de uma possível tomada de ação.

O atributo do espaço parte do conjunto de ocupantes e as ações dos grupos no lugar e por conseqüência, o domínio a quem tem posse ou poder para nele agir. A aparência o falso a mentira usam a figura humana como parte da produção do simulado, uma ferramenta da ação, representação do espetáculo, a tensão de um tempo na dirigibilidade de seu contexto. A conivência com a circunstância e o abandono de valores que resguardam abordagens menos destrutivas sobre esta ocupação, tornam mais fáceis à apropriação, por grupos sem qualquer ligação com a história do lugar.

Na contramão das necessidades de homogeneização da globalização caminhamos para um status de defesa territorial contextualizado entre as relações humanas de distancia e os comportamentos de grupos de ocupação com formas de identificação e caracterização como que com o conceito de lugar guarnecido por fortificações virtuais.

Este Lugar de:
Fazer, Trabalhar, Divertir, Amar, Orar, Morar, Jogar, Guardar, Despejar, Preservar, Andar, Estudar, Comprar, Gastar, Descansar, Dançar, Contar, Dinheiro, Sexo, Medo, Felicidade, Arte, Morte,…

Nos contatos pessoais e na comunicação é preciso sair para se entrar no mundo, analisando e avaliando os sistemas de controle. Guardar no lugar e guardar o lugar pode ser tão mentiroso e perigoso que pode gerar o não lugar, e neste caso o conceito de não-lugar, vale-se do vazio de espírito, do carente de realidade para poder sugerir a criação, a invenção ou a imaginação de preenchimentos reais ou do que se pode ter vivência pessoal.

A alteração do espaço humano pela prioridade à segurança faz do mundo contemporâneo um grande emaranhado de informações recebidas e enviadas por meios de captação de sinais analógicos e digitais que são distribuídos de acordo com o observador privilegiado.

“a sociedade  não é apenas um sistema mecânico de relações econômico – políticas ou sociais, mas um conjunto de relações interativas, feito de afetos, emoções, sensações que constituem, strictu sensu, o corpo social” (MAFFESOLI, 1996, p. 73)

O olhar da arte para o cotidiano e a produção intensa de situações inusitadas que tiveram início com o século XX, reflete no dia-a-dia que é construído na paisagem e nos lugares, variedades de situações complexas que identificamos dentro de outras situações. A somatória e o cruzamento de cenas elaboradas em conseqüência dos anseios e desejos de um tempo e espaço são captados pelas vanguardas e tiveram direcionamentos significativos no decorrer do século XX.
Pierre Lévy explica que é virtual toda entidade desterritorializada, capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e em locais determinados, sem, contudo, estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular… O virtual existe sem estar presente (LÉVY, 1993).

O levantamento da presença do espetáculo nas situações que dialogam com o habitual, e selecionar cenas que pertencem ao dia-a-dia e ao espetáculo na tradução mais direta dos significados e sentidos da grande metrópole, aprofunda o entendimento dos mecanismos de produção do espetáculo do lugar e estimulam o ato de reconhecer nos espaços da cidade os espetáculos cotidianos que estão aparentemente camuflados no fervilhar da metrópole, mas que mantém um diálogo e uma ação constante com o público.

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