Relacionamento entre Artista-Crítico de Arte

Por:  Aldir Mendes de Souza


ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA APAP, ( Associação Profissional de Artistas Plásticos de São Paulo ) ALDIR MENDES DE SOUZA,SOBRE O RELACIONAMENTO ARTISTA-CRÍTICO DE ARTE.
São Paulo, 23 de Outubro de 1984.

 No desejo de colaborar melhor na efetivação do que pretendem os itens 1 e 2 da Plataforma apresentada pela nova Diretoria da ABCA, ( Associação Brasileira de Críticos de Arte ) para a gestão do Biênio 1985/1986, que reza : - 1 – Defender maior espaço para a crítica de arte e para os assuntos culturais na imprensa, estimulando a interdisciplinaridade e o aprimoramento das relações com os artistas; 2 – Fazer valer a capacidade profissional específica da crítica de arte na formação de comissões julgadoras e organizadoras de salões e outros certames oficiais de arte; resolvi entrevistar o Presidente da APAP, Aldir Mendes de Souza para, por seu intermédio, tomar conhecimento, em maior profundidade, do pensamento do artista em relação à crítica. Para tanto, organizei algumas perguntas.
EK – Como encara o crítico de arte?
AMS – De frente. Encaro o crítico como um profissional que milita no mesmo setor, como conhecedor dos mesmos assuntos de arte e como pessoa capaz de debate-los com o artista. É muito melhor debater um assunto com pessoas que o conheça do que com leigos.
O importante é conversar sobre arte.
EK – Até que ponto acha válida a crítica – Notadamente a realizada através da Imprensa – Sobre as Mostras de Arte?
AMS – Acho válida a crítica como manutenção de um espaço para a discussão e a divulgação do trabalho do Artista. No momento em que os espaços diminuem, é importante que a crítica se bata por mantê-los.
EK – Qual a exata contribuição do crítico nas apresentações feitas em catálogos para as exposições em geral, individuais ou coletivas?
AMS – A contribuição do crítico nas apresentações feitas nos catálogos das mostras é a de explicar ao leigo a obra de arte numa linguagem simples e acessível aos não iniciados.
O texto deve também provocar um interesse que induza as pessoas a visitarem a exposição. Para tanto esse texto deve tecer comentários sobre os pontos favoráveis das obras. No meu entender, esses pontos não devem ser apontados pelo autor da obra, mas sim pelo crítico.
EK – Qual a contribuição real dos livros escritos por críticos de arte sobre a obra de um determinado artista?
AMS – Acho que o livro de arte é sempre uma contribuição cultural importante num país do terceiro mundo onde as publicações são extremamente escassas. É lógico que o resultado final dependerá da obra estudada ou divulgada de onde se conclui que o valor do livro dependerá do valor intrínsico da obra enfocada.
EK – Acha que seria de utilidade para o artista a visita do crítico ao seu ateliê?
AMS – Acho que a visita do crítico ao ateliê do artista seria interessante desde que o objetivo fosse o estudo de sua obra para divulgação. Uma visita do crítico ao ateliê do artista, apenas para comentários, poderia interferir na criatividade ou na seqüência lógica da criatividade deste último.As obras de arte devem ser observadas em locais de domínio público tais como galerias e museus.
EK – Considera que seriam úteis para o artista encontros com os críticos para debater problemas de interesse de ambos ?
AMS – Considero encontros entre críticos e artistas da maior importância tanto assim que a APAP já realizou dois desses encontros. O primeiro, em 1982, aconteceu na fundação Armando Álvares Penteado ( SP ). O segundo foi a I Semana de Arte Contemporânea no Centro Cultural São Paulo. Os resultados de ambos serão dados a público através de livros que estão sendo elaborados. Para 1985, já apresentei à Diretoria da APAP, uma proposta para a criação de uma “Comissão Mista de Artistas e Críticos”para organizar um simpósio que terá como principais objetivos a defesa profissional e a criação de uma política cultural de acordo com os interesses comuns da APAP e da ABCA.
EK – Qual o seu parecer sobre a Constituição de Júris de Seleção de Premiação ? Acha que deveriam ser constituídos somente de Críticos, somente de Artistas ou Mistos e, no último caso, qual a proporção entre seus membros ?
AMS – Acredito que as duas Associações unidas poderão exigir a participação das duas Entidades em todas as Comissões de Arte, de Museus, de Comissões Organizadoras de Salões e em Júris de Seleção e de Premiação. Desta forma, artistas e críticos, em igualdade de condições, poderão ocupar o espaço que lhes é de direito eliminando os atravessadores. Como atravessadores, notamos a presença, em Júris e em Comissões, de leigos e de pessoas de importância Social em outras áreas traçando a política cultural que seria de nossa responsabilidade. Citaríamos como exemplos: Arquitetos, Colecionadores, Empresários e Damas da Sociedade.
EK- Qual o apoio que gostaria de receber dos críticos?
AMS -  O apoio necessário à defesa profissional, exemplificando poderíamos citar os casos de apropriação visual da obra do artista plástico por empresas de divulgação e de veiculação de mensagens comerciais. Este é um problema jurídico relativamente novo no Brasil e que deverá contar com o apoio dos críticos como peritos das causas judiciais que já tramitam na Justiça.
EK – Qual a melhor maneira de ser aprimorado o relacionamento Crítico-Artista ?
AMS – Talvez, através dos debates nos encontros para tratar de problemas comuns relativos às duas profissões.
EK – O que pensa da premiação anual realizada pelas Associações de Críticos aos Artistas que se apresentaram em Individuais durante o ano ?
AMS – Penso que é válida quando os premiados são artistas. Não tem sentido uma Associação de Críticos premiar Críticos. Sugeriria, como desenvolvimento a esta resposta que os críticos criassem um prêmio para a empresa ou empresário que mais se destacasse na obtenção de recursos para atividades culturais no âmbito das Artes Plásticas. Como o país está com problemas de obtenção de verbas oficiais, temos que reconhecer a importância da participação das empresas no levantamento de recursos que possibilitem o desenvolvimento de atividades artísticas.
EK – Como acha que deveria ser efetuada a premiação dos trabalhos realizados pelos críticos uma vez que também podem ser considerados obras de arte ?
AMS – Seria mais lógico que os prêmios aos críticos fossem concedidos por Associações de Artistas. Isto já foi pensado no ano passado (1983) pela APAP porém, por problemas de tempo e por falta de apresentação em Assembléia Geral, essa idéia ainda não foi concretizada. A APAP poderia nomear uma Comissão de Artistas que lesse as publicações, as teses e os livros escritos por críticos e avaliassem seus méritos.
EK – Qual a crítica que faz ao crítico ?
AMS – Critico a certeza do saber. Na minha opinião, existem dois tipos de críticos: - O que se questiona e o que tem certeza de suas decisões. Este último erra. O primeiro tipo examina a obra do artista com prudência e o respeito necessários à meditação sobre ela, pode também errar mas sempre em porcentagem menor.  
 

Nenhum comentário

  1. Deixe um comentário

    Seu comentário foi enviado com sucesso. Em breve estará disponível nesta página!
    Obrigado!