César Romero

César Romero nasceu em Feira de Santana, Bahia, no ano de 1950. Autodidata, iniciou-se em artes plásticas no ano de l967. É pintor, fotógrafo e crítico de arte. Vive e trabalha em Salvador desde 1966. Formado em Medicina em 1974 pela Universidade Federal da Bahia, optou pela Psiquiatria, especializando-se em Psicoterapia Individual e Grupal, com intensa atividade clínica.
Participou de mais de 400 coletivas e 33 individuais no Brasil. No exterior teve 50 coletivas e 6 individuais. Mostrou seu trabalho em: As Neves, Barcelona, Berlim, Bilbao, Buenos Aires, Cayenne, Chiasso, Chaves, Coimbra, Colônia, Düsseldorf, Espinho, Fort-de-France, Granada, Hannover, Honolulu, Lisboa, Los Angeles, Lousã, Leiria, Madrid, Marsailles, Miami, Montevidéo, New York, Paris, Porto, Punta Del Este, San Francisco, Santiago, Washington, Bordeaux, Sorde L`Abbaye, Guimarães, Santarém, Oñati, Macau, Orthez, Monein, Lourdes, Tarbes, Saint Savin, Pau, Dax, San Sebastian, Jaca, Sabiñanigo, Saragossa, Sevilha, Panplona. Fez parte dos principais Salões Oficiais realizados no Brasil. Obteve 28 prêmios de pintura, 4 de fotografia, 3 Salas Especiais. Possui trabalhos em 45 museus brasileiros, inúmeras referências nacionais e internacionais sobre suas obras em livros, dicionários, revistas e jornais. Curadoria em vários estados brasileiros, países lusófonos e Espanha.

Membro de júri em vários concursos e Salões Oficiais de artes plásticas no Brasil e alvo de 12 conferências sobre seu trabalho por críticos de arte e historiadores. Em seus 32 anos que escreve sobre arte – um esforço provavelmente sem igual em nosso país, de divulgação da arte brasileira – publicou cerca de 800 artigos e aproximadamente 200 textos de apresentação em catálogos e livros. Proferiu dezenas de palestras, participou de diversos congressos e debates sobre artes plásticas e o papel da crítica de arte, ressaltando-se duas Bienais de São Paulo e o V Congresso Nacional da ABPA – Associação Brasileira de Pesquisadores de Arte, São Paulo. Realizou trabalhos teóricos para jornais e revistas brasileiras.

É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e da Associação internacional de Críticos de Arte (AICA) – ONG reconhecida pela UNESCO com sede em Paris. Da ABCA recebeu, em 2002, o Prêmio Mario Pedrosa (Destaque Artista Contemporâneo – 2001) e em 2005 o Prêmio Gonzaga Duque (crítico filiado por atuação durante o ano-2004). Realizou inúmeros cartazes e marcas para empresas, eventos nacionais e internacionais, projetos visuais para capas de discos, livros e estampas para tecidos de várias etiquetas, ilustrações para contos, livros, novelas, poemas, jornais e revistas.

Trabalhos seus foram integrados em projetos de decoração e cenário para 25 novelas e alguns especiais da Rede Globo de Televisão, programas da Rede Manchete e TV Record. Possui 5 vídeos sobre seu trabalho. Painéis e murais em Aracaju, Feira de Santana, Fortaleza, Itaparica, João Pessoa, Maceió, Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Teresina. Organizador de ciclos de palestras e conferências de críticos de arte na Bahia, tais com Harry Laus, Vicente de Pércia, Israel Pedrosa, Lisbeth Rebollo Gonçalves e Geraldo Edson de Andrade.

Várias edições de gravuras pela Imagem (Rio) e Almavera (São Paulo). Seu trabalho mereceu comentários dos seguintes críticos de arte: *Adalice Araújo, *Alberto Beuttenmüller, Alberto dos Santos, Aldo Trípodi, Alexandros Papadopoulos Evremidis, Alfredo de Souza Almeida, Antônio Celestino, Âmbar de Barros, *Celma Alvim, Antonio Zago, *Aracy Amaral, Alécio Cunha, Carlos Eduardo da Rocha, *Carlos Von Schimidt, *Carlos Perktold, Celso Marconi, *Daisy Peccinini de Alvarado, Dival Pitombo, *Eduardo Evangelista, *Elvira Vernaschi, *Enock Sacramento, *Emanuel Von Lauenstein Massarani, *Ernestina Karrmann, *Flávio de Aquino, *Franklin Jorge, Frederico Morais, *George Racz, *Geraldo Edson de Andrade, Germano Augusto, *Gláucia Lemos, Glauce Faquer, *Guiomar Lobato da Costa Cruz, Zózimo Barrozo do Amaral, *Harry Laus, Herbert Magalhães, *Hugo Auler, *Ivo Velame, *Ivo Zanini, *Israel Pedrosa, *Jacob Klintowitz, *Jayme Mauricio, *José Roberto Teixeira Leite, José Altino, *Lisbeth Rebolo Gonçalves, Ludovice José, *Ledy Mendes Gonzales, *Luiz Carlos Daher, *Luiz Ernesto Kawall, *Maria Helena Ochi Flexor, *Juarez Paraíso, *Magno Fernandes dos Reis, Mauro Ventura, Marcus de Lontra Costa, *Mario Barata, Mário Margutti, *Mário Schenberg, *Matilde Matos, *Mariza Bertoli, *Miriam de Carvalho, *Morgan da Motta, Ney Flávio Meirelles, *Oscar D´Ambrosio, Paulo Chaves, *Paulo Klein, Pedro Scherer, *Pierre Santos, Reynivaldo Brito, *Risoleta Córdula, Romano Galeffi, Romeu de Mello Loureiro, Rubens Monteiro, *Ruth Laus, *Solange Berard Chalita, Tânia Neves, Tavares de Miranda,*Théon Spanudis, Telmo Martino, Telmo Ventura * Vicente de Pércia, *Walmir Ayala, Wilson Rocha, Wilson Coutinho. Dos jornalistas e poetas: Álvaro Costa, Alvino Carvalhal, Amauri Junior, Ana Cristina Pereira, Ana Angélica, Ana Maria Santeiro, Anchieta Nery, Anne Cerqueira, Antônio Brasileiro, Aléxis Augusto, Alik Kostakis, Bianca Tinoco, Carolina Augusta, Aparecida Saad, Cássia Maria Candra, Carlos Swann, César Tartaglia, Cintia Oliveira, Claudia Lessa, Claudius Portugal, Cleusa Maria, Dimas Oliveira, Doris Miranda, Edson Borges, Eduardo Bastos, Edvaldo Pacote, Elaine Bittencourt, Felipe Quintans, Flavia Waltrick, Franklin Maxado, Germano Augusto, Glauce Faquer, Gil Mário, Gilberto Amaral, Gilka Maria, Gustavo Autran, Helena Aragão, Heloisa Tolipan, Isabel Butcher, Isis Moraes, Iza Calbo, Fernando Freitas Pinto, João de Barros, José Raimundo Azevedo, José Ribeiro, José Nazareno Mimessi, Julio Assis, July, Lígia Motta, Lenita Miranda de Figueiredo, Ludovice José, Maria Silvia, Mario Margutti, Marcos Uzel, Myrian Fraga, Ney Flávio Meirelles, Odyema Ferreira, Otto Sarkis, Paulo Lara, Pedrito Barreto, Roberta Araújo, Regina Coeli, Rosalvo Junior, Tânia Neves, Yvone Matos Cerqueira, Daniela Name, Helena Aragão, Jane Godoy, Karine Querido, Letícia Pimenta, Marcos Antonio Barbosa, Regina Célia, Sérgio Renato Rosa, Sidney Rezende, Simone Ribeiro, Sylvia Maria, Tavares de Miranda, Yolanda Simões Atherino, Zé Coió Zózimo Barrozo do Amaral. Dos artistas plásticos: Antonio Maia, Chico Liberato, Dílson Midlej, Emmanuel Hile, Gil Mário, Israel Pedrosa, Jenner Augusto, Juraci Dórea, Leonardo Alencar, Ronaldo Rego, Rubem Valentim, Samuel Brandão e Sante Scaldaferri.
* Fazem parte da Associação Brasileira de Críticos de Arte (A.B.C. A.) e da Associação Internacional de Críticos de Arte (A.I.C.A.).

Crítica

Boas vibrações de um baiano do mundo
“A franja da encosta
cor de laranja.
capim rosa chá,
o mel desses olhos
luz médio cor ímpar
o ouro da serra
A prata do trem”…
(VELOSO, Caetano – “Trem das Cores”).
“Baiano, nordestino, brasileiro, universal”. César Romero, ao dizer isso, sugere a dimensão de sua ambiciosa senda artística, embebida em sol quente de feira, bandeirolas ao vento, tamboretes das festas de largo, pandorgas ao céu, fitas das festas populares, energia colorida saltando da tela.
César Romero é destes artistas que dispensam longas lucubrações. Ele é exato em sua codificação dos símbolos de sua aldeia, quase minimalistas e, ao captá-los com precisão, inaugura um novo manifesto a cada gesto medido, a cada cor meditada.

Em primeiro lugar: admiro César Romero por ser um representante de minha geração, daqueles jovens que se deslumbraram com o poder da imagem, enquanto as sombras da Ditadura amedrontavam nossos sonhos de liberdade.

Um menino ainda, César começou a se interessar por arte vendo pintores ingleses em Feira de Santana, num desses museus impressionantes que Assis Chateaubriand semeou pelo Brasil. Ele próprio conta. Foram impressões que o marcaram por toda a vida. Impressões que se misturaram com o cheiro e as cores da terra e que resultaram posteriormente em suas séries de obras que resgatam uma antropologia visual.

O adolescente César Romero, assim como eu, iniciou-se na imagem através da fotografia. Desde então exercitou com disciplina exemplar, na fidelidade ao simples, em princípio fotografando os banquinhos das barracas populares e retirando daquela geometria óbvia resultados construtivos, em cores pálidas ou contrastantes, em preto, branco e cinzas.

Homenageado em 2001 em Feira de Santana, sua cidade natal, surpreendeu-me a gama de lembranças que o registro em vídeo do evento mostra. Entre os presentes revi o artista Juraci Dórea, que em uma Bienal Internacional de São Paulo, espantou os visitantes com uma instalação de árido teor sertanejo. Também notei, homenageando o artista da terra, um velho amigo de imprensa paulistana, o animador cultural Franklin Maxado “Nordestino”, como ele gostava de autodenominar-se. Como diz Caetano, “São Paulo é o mundo todo”.
Ao ver César Romero, cinco décadas bem vividas em persistente criação, não posso deixar de sentir uma ponta de orgulho em ser brasileiro e tentar, isso mesmo, ao menos tentar, compreender este país.

Desses formatos do ver constante surgem platibandas e faixas emblemáticas, enigmas nem sempre fáceis de resolver. Fitas devocionais com símbolos do Candomblé, veios da religiosidade, destes motivos ele extrai tessituras, cromatismos, signos, símbolos, geometrias aplicadas. César Romero é um dos criadores da nova visualidade brasileira.
Comentaristas e críticos não se cansam de julgar o trabalho de Romero com comparações óbvias e de pouca imaginação. Ondas que não criam nenhum mar, apenas insinuam uma represa de idéias mal resolvidas. “Lembra Volpi.” “Parece Valentim”. “Tem algo de Nassar”. Ora, é simplesmente César Romero.

Claro que ele não lembra Picasso, mas se o caso fosse comparar poderíamos dizer que ele faz com as fitas e bandeirolas o que Wahrol fez com as latas de sopas Campbel.
Elementar que eu não pretendo me afinar com o coro dos contentes que idolatram a arte de Romero com outras intenções. Badalações. Apenas deixo registrada aqui minha admiração por este espontâneo comunicador, um artista que para permanecer vibrando no panorama da arte brasileira precisa unicamente ser ele mesmo, um artista baiano, brasileiro, universal.

PAULO KLEIN
Crítico de Arte
ABCA/AICA São Paulo, 27 Junho 2002.