Coca Rodriguez

 
Paulistana, formada pela Faculdade de Artes Plásticas (FAAP) em 1968, tendo sido aluna de Flavio Mota, Flavio Império, Benedito Lima de Toledo, Sergio Ferro, e Ubirajara Ribeiro. Trabalhou com desenho infantil e, a partir de 1980 desenvolve trabalho artístico, expondo no Brasil e exterior, telas, aquarelas, objetos em silicone (águas-vivas), gel, e atualmente filmes, fotos, impressões digitais numeradas e em acetato. Atuou no grupo interdisciplinar de estudo (USP). Participa a 25 anos do intercâmbio, Ponte Cultura. Realizou curadorias dentro do intercambio Brasil e Alemanha. Recebeu prêmios dentre os quais: 1º premio - viagem ao Japão (no IX Salão Brasileiro de arte Mokiti Okada).
 
Ha 10 anos, percorre as estradas de toda a América do Sul e dentro desta vivência registra suas emoções em seu diário de viagem, que geram desenhos a grafite, sobre papeis ou telas de grandes dimensões e fotos.


A viagem um trabalho artístico
Depoimentos dos diários de viagem
 Os nadas, os vazios e a alternância com as cidade
Um caminho de contas(passei por rio de Contas), cada distância um se alongar da vida, na linha firme e decidida para o desconhecido.
O enredo a se fazer, num novo que se avizinha e resulta e se faz na dúvida dos dias longos.
Esta dúvida vai traçar a obra, na inconstância, daquilo que não é premeditado. Igual a que? A quem?
A visão do novo é voraz, se traça no vazio, nas coisas escondidas. Os achados são rápidos eloqüentes.
Sem moldes que consomem uma visão, ela se torna única, são pedaços que serão mais tarde comida para um rumo artístico.
Coca (depoimento) outubro /novembro de 2009
 


 Texto para “florestas inundáveis”
 .... Nos longos caminhos, na imensidão perdida, os dias são longos....  A floresta se fecha num ponto do horizonte. As margens refletem as árvores....., são como uma seqüência de paisagens.(panorâmicas) .  “Certas horas os limites se abrem, são os “furos ou igarapés” nas “florestas inundáveis”“““....      e é aí que a vida vai deslizando lentamente...... 
(diários de viagem)
 Resumo e textos sobre os rios e a viagem
 A nascente do Tocantins   ( Brasília -  Belém)
 O rio Tocantins, é vivo e aqui,  parece que está despertando.... ele surge num campo, posso notar os primeiros sintomas de sua grandeza, num  pântano empapado de .água.....
 ...agora é um riozão... atravessamos a ponte, quanta água...é uma beleza !!!!!!...
 ...os caminhos contornando o Tocantins,são lindos    .... e as chuvas tropicais na estrada..... a mata é bem verde, muito ...coqueiro babaçu e buritis....
 ...o clima é quente, úmido, melado,.... por tudo se vê, muitos pássaros e papagaios.....
 Marajó
... a balsa para atravessar é demorada, 3 horas, neste rio oceano...
.... a ida foi boa , mas na volta, o tempo deu uma virada....
....Marajó é única, forte agreste, tem características próprias, as casas, as fazendas, as palafitas, o cheiro é próprio, tem uma mistura de fruta tropical- abacaxi meio passado, cupuaçu, mangaba, manga, caju , suor, peixe e água dos mangues.  Marajó quer dizer salva das águas  .....o nome de uma cidade já diz -         Salva terra .
.... a vida é nas águas, a chuva vem agora e inunda tudo...
O calor é forte e vem a chuva, á tarde á noite...
...acampamos em frente ao Museu de Ararí, com chuva, tudo molhado, dormimos na barraca toda molhada, mas aqui o reinado é das águas....... para conhecer Marajó, é preciso conhecer o homem... este homem rude que dá nome aos ventos, à chuva e aos rios, que se protege com remédios da mata e se salva com rezas para os santos e os espíritos e acima de tudo se benze com a água....
 ...a volta de balsa cansa de tanto rio para atravessar, parece mar, mas isto é pouco tempo, (de Belém para Macapá são 36horas).... E não é calmo, tem ondas boas, e aqui perto uma pororoca, num braço de rio, nesta imensidão, muitas pessoas tentam explicar certos fenômenos( uma pororoca num braço de rio que não é provocada pelo encontro com o mar), e ficam sem saber como... para entender é preciso saber o quanto é forte ESTA natureza..... dominar a natureza nunca, conviver sim...
 Macapá é quente, estamos na linha do Equador,... e a chuva tropical que mela tudo...e o rio Amazonas beirando...
 Calçoene       a cidade da água doce, acho que é porque o rio Amazonas invade as águas do mar, ficamos numa fazenda de búfalos, bem alagada, sobre palafitas, bem mato... o ataque direto dos mosquitos, em quantidade, mordem na cabeça , por cima da roupa...o litoral é diferente, tem mar mas é lama do rio Amazonas, vai até todo o Oceano, longe mesmo! Os cavalos e os búfalos são os banhistas...
 Oiapoque        cidade de fronteira.. o fim do Brasil para nós,     a  travessia é linda, muita mata e Saint George, é incrível,  mistura de tudo já num pedaço da Europa,  
Em plena selva.... agora rumo a Cayenne....
 Paramaribo (Parbo) apelido, mistura de Sião, Mongólia, Coréia, Vietnam, Láos, e os Marronis (África) Índia e Holanda.
 Georgetown é chuva e água, tudo alagado sempre.
 Ciudad Guiana atravessamos o Oiapoque, quanta história.... (peguei água para a minha coleção de águas  )
 “a Gran Sabana” o monte Roraima, e “O Mundo Perdido” de  Conan Doyle, pela névoa, pela imensidão, pela fuga do mundo, é o mundo perdido...       aí são as terras de Macunaima...
 De volta ao Brasil o Rio Branco, que margeia Boa Vista (Roraima) deslizar pelo rio é lindíssimo, ao por do Sol...
 Até Manaus, passamos pela reserva,      e muita cachoeira pelo caminho, e buritizais....
 O rio Amazonas outra vez, nas águas, entre os furos, que vem com água do Solimões, branca, branca. ...e o Negro com as águas tingidas.
 .. no porto da Balsa, todos os peixes chegando, Tucunarés , Tambaquis, Pirarucu, vivos, pulando, e  os grandes sendo exibidos como pesca pré-histórica, eles estão no limite entre peixe e lagarto, cobra e porte de animal imenso, e carregam os feitos de quem os dominou .
(tenho que desenhar estes peixes, para provar que existem)
...dormimos na beira do rio, (ou igarapé?) com chuva e lama em tudo,... no rio Iguaaçu, parei para  ver o Boto Cor de rosa, ele é mais salmon, (não existe rosa por aqui, é invenção de sulino) ele é bom , brinca olha muito para os de fora, dei peixes para ele, quando ele olha parece gente.....agradei a sua cabeça...
 ...o som da mata à noite é confuso, uns sons de cachorros, que são do mato, ou onças.... a estrada é difícil, a Amazônia não é brincadeira, é tanta água...
As mutucas e abelhas adoram as pernas com lama, o dia é longo.....
 Chuva, chuva, sol, sol, e em alguns rios, de transparência alguns botos, Mas ninguém sabe como os lagos e os igarapés são habitados, são sucuris, jacarés ou peixe elétricos... não se pode nadar...dormimos na mata, ....
 ...a vegetação é assim, verde e queimada. No verde as árvores, e a castanheira se sobressai, palmeiras bonitas, bananeiras silvestres , e uma árvore menor tipo arbusto com flores, e as lagoas de longe em longe, alguns coqueiros esguios de assai , nas lagoas os troncos secos fincados, agora vejo  um rio amarelo!!! São as folhas masceradas que tingem tudo   .. a castanheira com bromélias grudadas, no topo e o fuste é pequeno....
 .... e agora a tensão, a onça , será que existe,   as lendas são muitas, ela é preta e voraz, dizem que pula alto, para alcançar as pessoas, aparece de dia e de noite....tem uma ossada de mulher....ela pega no pescoço e abre na mesma hora com as garras o corpo todo... o caipira diz “cês num sabe o que é onça”, e dormir na mata é bem preocupante... a selva forma uma parede de um lado e do outro, não se entra nela...
 ...todos atolados, plantados, como plantas, acho que a natureza vai incorporar....

www.cocarodriguezcoelho.com